Constantemente nos deparamos com sites ou artigos, as vezes até mesmo imagens na internet explicando ou dando opiniões sobre como as crianças devem ser educadas. Encontramos linhas extremamente opostas e contraditórias entre si, cada uma alegando que sua forma de agir é a correta.
Algumas linhas mais “tradicionais” dizem que o fato de terem sido castigadas e hoje são pessoas honestas, significa que essa é a forma de criar filhos honestos, e longe de crimes e violência.
Algumas linhas mais modernas dizem que os filhos não podem ser castigados sob nenhuma ocasião. Algumas pessoas dizem que querem que os filhos “tenham na infância o que eles não tiveram”.
A questão é que o mundo e as pessoas mudaram, o acesso às informações mudou, e fazer as mesmas coisas não irá gerar os mesmos resultados.
Observamos na prática que nem uma, nem outra estão absolutamente corretas, e que medidas simplistas e resumidas sobre educação não geram sempre os resultados pretendidos. Pensando nisso, elaborei, sob o ponto de vista da Programação Neurolinguística Sistêmica, este artigo que explica algumas questões relacionadas à educação e mudança de comportamento, principalmente baseadas na influência que as crianças recebem dos pais, professores e quaisquer outras pessoas que sejam referência na sua personalidade e seu caráter.
Naturalmente muito do que está descrito aqui, quando utilizado até mesmo com pessoas adultas, irá gerar um melhor relacionamento, com mais confiança e harmonia.
O artigo foi feito de uma forma resumida, de forma que o leitor possa tirar um proveito entendendo os princípios que são descritos, não é um artigo que descreve especificamente o que deve ser seguido “ao pé da letra”. Portanto aconselho que você leia os princípios aqui descritos, os adequando à sua realidade.
Introdução
A Programação Neurolinguística Sistêmica estuda como as pessoas processam e organizam as informações que recebem do mundo externo, formando sua estrutura de pensamentos, emoções e comportamentos. Seu estudo não é baseado numa área específica da vida, como negócios, relacionamentos ou educação, pois todas essas áreas são influenciadas por esses fatores estudados pela PNL Sistêmica, ou seja, uma pessoa com uma determinada estratégia de pensamentos, emoções e comportamentos numa determinada área, poderá, por muitas vezes utilizar essas mesmas estratégias em outras áreas.
O Sistema de Crenças das pessoas, ou seja, o que elas acreditam ser verdade sobre elas mesmas, as pessoas e sobre o mundo determinam a forma que elas avaliam o que acontece no mundo externo, dando significados e atribuindo relações de causa e consequência entre os fatos.
As Crenças também influenciam na forma como a pessoa se comporta frente a uma situação desafiante, por exemplo, uma pessoa que acredita ter capacidade para lidar com as situações que acontecem na vida, provavelmente terá uma atitude emocional e comportamental mais flexível para resolver problemas do que as pessoas que acreditam que as coisas acontecem com elas, sem que elas tenham podem de mudança sobre essas coisas.
Nosso foco aqui não é identificar quais crenças são verdadeiras e quais são falsas, mas sim quais crenças ajudam as pessoas a terem saúde, sucesso, felicidade, dinamismo para resolver problemas, otimismo para lidar com situações desafiadoras e quais não ajudam.
Um breve resumo da formação da nossa realidade:
Todas as informações que recebemos de mundo são captadas pelos nossos órgãos dos sentidos, sendo processadas pela nossa mente através de cinco sistemas representacionais. Essas informações podem ser visuais, auditivas, cinestésicas (sensações), olfativas ou gustativas.
Quando pensamos sobre qualquer coisa, também pensamos através destes cinco sistemas, incluindo o nosso “Diálogo Interno”, que são coisas que falamos para nós mesmos, podendo ser considerado uma ramificação do sistema auditivo. Esses cinco sistemas + o Diálogo Interno formam o que chamamos de Representação Interna, é impossível ter qualquer tipo de pensamento que não seja nenhum desses seis elementos.
Os fatos que ocorrem no mundo não possuem um significado em si, eles são filtrados pelos nossos sistemas, de forma que quando são processados, imediatamente atribuímos a ele um significado, normalmente julgando se trata-se de algo “bom ou mau”, “certo ou errado” ou esse tipo de coisa. O significado que atribuímos depende das experiências de vida de cada um, além de seu estado emocional no momento, entre outros fatores.
O que estamos querendo dizer é que os significados que atribuímos a um fato geram uma emoção e imediatamente são “arquivados” juntos na nossa mente, não pensamos num fato que possui um significado que foi atribuído a nós mesmos, mas sim que “O fato foi bom”, ou algum outro significado, como se significassem a mesma coisa.
Quando tomamos consciência disso, podemos aprender a buscar significados sempre mais positivos e que nos possibilitam ter melhores resultados, saúde, sucesso, emoções positivas e etc. Basta criar um hábito de se perguntar “que significado eu estou dando para este fato que aconteceu?”.
Provavelmente isso vai te fazer descobrir como você está julgando aquele fato, em seguida, se você se perguntar “O que mais isso poderia significar?” ou “Como eu poderia ver esse fato de uma forma mais positiva?” imediatamente iremos encontrar outros significados e melhorar nossas emoções sobre aquilo. Um pouco de prática pode ser necessária para aprender a fazer isso imediatamente.
Nas próximas vezes que um fato parecido ocorrer, imediatamente daremos um significado mais positivo, sem precisar passar antes pelas emoções negativas.
Nossa sequência de pensamentos também gera emoções, basta perceber que quando você cria pensamentos felizes e produtivos, acessa emoções positivas, quando cria pensamentos negativos, de falha, fracasso ou doença, cria essas emoções.
A qualidade dos nossos pensamentos interfere na qualidade da nossa saúde emocional, comportamental e em tudo que envolve nossa vida e nossos relacionamentos.
Lembra que nosso estado emocional interfere nos próximos significados que vamos dar às coisas? Se você constantemente gera pensamentos negativos, vai ver o mundo de uma forma mais negativa.
As emoções também influenciam nossos comportamentos e habilidades. Provavelmente você se lembra de um momento em que teve um bom desempenho em algo e estava se sentindo bem, e uma vez em que estava se sentindo mal e seu desempenho não foi tão bom.
Feita essa breve introdução, vamos ao real assunto deste artigo, como utilizar esses e outros fundamentos na educação.
Influenciando a Representação Interna
Todas as coisas que falamos, em algum nível influenciam a representação interna de quem está ouvindo, nosso tom de voz e linguagem corporal também. Tenha sempre consciência disso!
Todas as palavras que dizemos, mesmo que pareçam sinônimos ou tenham significado parecido, geram uma representação interna diferente, por exemplo, uma pessoa que diz que está “exausta” ou que está “destruída” está dizendo quase a mesma coisa, mas a representação interna da segunda é muito mais forte e negativa.
Procure utilizar palavras e formular frases que incentivem a criança a utilizar seus próprios potenciais, criar pensamentos nos quais ela é capaz de resolver as situações que encontra, como aprender a andar de bicicleta ou aprender a escrever.
Evite tentar “convencer” conscientemente a criança de que ela é capaz de algo, explicando de uma forma racional, pois esse tipo de comunicação em geral possui tom de voz ou linguagem corporal diferente das situações em que a criança está habituada, a fazendo perceber aquela comunicação como algo “diferente” e se sentindo pressionada. Procure utilizar atividades lúdicas para ensinar de uma forma indireta.
Se você se lembrar das coisas que você mais gostou de aprender, ou mesmo que mais te dão prazer, você aprendeu num contexto agradável, sem alguém estar “te fazendo aprender”.
A palavra Não
Quando utilizamos um comando com a palavra “não”, é impossível para nós entendermos este comando, sem que antes tenhamos representado o “sim” na nossa cabeça, para a criança entender que “quando chegar ao shopping, não deve correr”, primeiro ela precisa se imaginar correndo, o que significa que existe essa possibilidade, talvez ela sequer tivesse pensado nisso antes daquela comunicação. Uma forma adequada de dar esse tipo de comando é utilizando termos no positivo, descrevendo o que a criança deve fazer. Por exemplo, observar a forma que as outras pessoas se comportam naquele ambiente, ou simplesmente “andar junto com os pais”.
“Não pense numa árvore agora!”.
Não é não
Em alguns momentos, os pais podem fazer o que os filhos pedem, em outros não. Tome cuidado para evitar mudar muitas vezes de ideia, pois isso mostra para a criança que se ela insistir bastante, acabará sempre obtendo o que desejar.
Obviamente haverá situações em que você irá mudar de ideia, neste caso, explique o que o motivou a mudar de ideia, para evitar incentivar um senso “manipulativo” por parte da criança, que poderá ser repetido quando ela for adulta.
O que ocorre aqui é um princípio que diz que o elemento mais flexível de um sistema irá controlar o sistema (Lei do Requisito Variabilidade). Quando a criança recebe um “não”, pode ser que ela faça manha, chore, grite, fique quieta e sozinha, ou uma série de outras coisas. Ela vai tentar diversos recursos até obter a resposta que deseja.
Tome cuidado para não se tornar inflexível demais, ou desmerecendo as tentativas da criança, de forma a “diminuir” ela como pessoa, pois ela está formando seu senso de identidade e auto estima, se ela se sentir insegura demais, poderá se tornar uma pessoa insegura.
Dar exemplo
É muito comum que os pais ensinem verbalmente o que a criança deve fazer e como se comportar, mas façam exatamente o contrário.
Imagine que os pais são as pessoas de referência de uma criança, as pessoas que ela busca espelhar e ser parecida, ela vai adotar muito mais características que observar os pais fazendo do que falando.
Lembre-se também que você nunca sabe quais serão as crenças que as crianças irão formar ao ver um determinado fato, pode ser que você demonstre comportamentos que julga éticos ou positivos de propósito, mas numa hora que a criança está distraída, ou em outro recinto, você fala palavrão ou grita, essa informação também será absorvida por ela.
De toda a comunicação, apenas 7% do seu significado é verbal, sendo 38% da mensagem transmitida pelo tom de voz e 55% pela linguagem corporal e gestos.
Um pai que ensino ao filho que não deve gritar, por exemplo, e constantemente grita, irá passar mensagens contraditórias para a criança, se em algum momento a criança for repreendida por gritar, poderá se sentir confusa, imagine a frustração de estar tendo um comportamento semelhante ao de uma das pessoas que você mais admira no mundo, e ser repreendido por isso, pela própria pessoa.
Antes de repreender, pense duas vezes se aquele comportamento não foi aprendido pela criança pelos próprios pais.
Castigo
Quando geramos qualquer tipo de castigo para a criança, seja ele “oficial” ou indireto, estamos criando um significado para um evento de que o castigo é a “contraprestação”, quase como se estivéssemos fazendo uma troca.
A criança sabe que haverá uma punição pelo comportamento e depois ela estará “livre” novamente, o problema é que nas próximas vezes em que ela pensar em ter aquele comportamento, mesmo sabendo que é errado, ela vai achar que a consequência obvia será o castigo, e não as reais consequências deste comportamento.
Para ilustrar esse fato, vamos imaginar que um jovem adulto dirige embriagado, e é punido com uma semana sem poder dirigir. Na próxima vez que ele pensar em beber e dirigir, ele vai pensar que a possível pena é ficar uma semana sem dirigir, e não que ele pode colocar a vida dele e de outras pessoas em risco.
Gerar culpa
Tome cuidado com o tipo de estados e emoções internas que você vai eliciar nas crianças, por exemplo, a fazendo sentir culpa ou arrependimento pelo que fez, ou medo por não fazer alguma coisa, ou qualquer outra emoção negativa.
Um dos motivos principais é que os estados internos ficam associados ao fato que os gerou, da mesma forma que você as vezes ouve uma música e se lembra de alguém, ou sente um cheiro de um bolo que a vovó fazia, o que imediatamente te remete de volta àquela época.
Se você quer que seu filho aprenda uma habilidade, por exemplo, e fica usando o fato de outras crianças já terem aquela habilidade, e por isso ela deveria se esforçar mais para aprender, pode ser que ela se sinta mal por ser incompetente naquela habilidade, de forma que a repetição deste fato vai fazer com que ela se sinta mal simplesmente pelo fato de pensar sobre aquela habilidade no futuro, desistindo de aprender simplesmente para evitar aquela emoção.
Num nível maior ainda, a criança pode até mesmo começar a evitar os coleguinhas que já têm aquela habilidade, pois sempre que os ver vai se lembrar de que não tem a mesma habilidade que eles.
Em geral alguns professores fazem isso com os alunos, por exemplo, é muito comum no nosso sistema de ensino encontrar alunos que não gostam de números, o que provavelmente ocorre é que os professores, de uma forma não intencional (geralmente) fazem os alunos se sentirem mal ou inábeis, e em seguida escrevem números na lousa, os números ficam associados à emoção sentida.
Algumas crianças que são forçadas a estudar na mesa da cozinha, e depois não querem se alimentar, podem estar relacionando as emoções negativas que sentiram na mesa no contexto da aprendizagem, e acessando essas emoções no contexto da refeição.
Duplo Vínculo
Deixei esse assunto por último pois ele exige uma atenção especial. Duplo vínculo é o nome atribuído a uma situação na qual a pessoa fica sem saída, ela estará condenada se fizer uma coisa, e também se não fizer.
Quando uma pessoa precisa decidir entre vários doces, ela faz uma escolha, normalmente optando pelo que ela gosta mais ou está com mais vontade naquele momento.
Quando ela tem dois doces que está com uma vontade parecida, em geral ela está com um conflito, sabendo que deverá abrir mão de um deles.
Duplo vínculo, em geral se dá quando a pessoa sente que qualquer escolha que ela fizer será negativa, e o fato de não escolher nada também.
Como isso ocorre? Imagine que você diz para uma pessoa que ela deveria demonstrar mais os sentimentos, mas quando ela demonstra, é repreendida e quando não demonstra é julgada como alguém que esconde as emoções.
O filho de um autor famoso de livros de PNL relatou que numa ocasião, a filha tinha um namorado que começou a brigar com ela pelo fato de ela não ligar para ele todos os dias para conversar, porém quando ela começou a ligar todos os dias, ele ficava mais tempo a criticando e fazendo se sentir culpada pelos dias que ela não ligava, e dizendo que ela só ligou por ele ter brigado anteriormente. Se ela não ligava, ele brigava com ela novamente. Ou seja, se ela ligasse ou não, eles brigavam. Naturalmente o relacionamento não durou muito tempo.
Geralmente uma pessoa que vivencia situações de duplo vínculo não estão conscientes de que estão sem escolhas, elas simplesmente se sentem mal, mas não sabem exatamente o motivo, e não conseguem comunicar aos pais que estão nessa situação. “Pai, você me diz que é importante brincar e me divertir, mas quando eu brinco você briga comigo pois estou espalhando os brinquedos, eu sou uma criança de cinco anos, você poderia esclarecer melhor o que eu devo fazer nessas situações?”. É obvio que uma criança não irá fazer essa comunicação, até mesmo para adultos, geralmente essa situação ocorre fora do nível de consciência.
As pessoas que vivem muito tempo num sistema familiar e que são colocadas constantemente em situações de duplo vínculo, no futuro podem ser “puxadas” para duplos vínculos, até mesmo em situações que deveriam ser simples (ou que são simples para as outras pessoas).
Em estudos na década de 1980, principalmente as realizadas pelo antropólogo Gregory Bateson, foi verificado que o duplo vínculo é um dos principais fatores de “surtos” psicóticos, principalmente entre as pessoas que já possuem uma tendência a terem problemas de cunho emocional.
Admito que este artigo ficou razoavelmente longo, porém uma grande quantidade de assuntos ainda foi deixada de fora, que poderiam ter sido abordados aqui.
Escreva o que achou nos comentários, e se houver uma interessados, farei uma continuação deste artigo, com outros fatores que podem envolver educação e desenvolvimento pessoal.
Bruno Gianolla