No livro “A Erva do Diabo” de Carlos Castañeda, podemos obter diversos e profundos ensinamentos com Don Juan. O título original do livro é Teachings of Don Juan, e apesar de homônimo, este não deve ser confundido com o sedutor Don Juan, de Sevilla.

Quando o velho índio “brujo” Don Juan estava ensinando a Castañeda sobre como se tornar um “homem de conhecimento”, este dizia que uma pessoa apenas se torna um homem de conhecimento após enfrentar seus quatro inimigos naturais.

Neste artigo trarei uma pitada de PNL, combinada com os ensinamentos antigos do Sábio Índio Yaqu (tribos naturais dos Estados Unidos e México).

Uma coisa que me chamou a atenção logo no início deste ensinamento, é que a passagem fala sobre o que chamamos de uma pessoa “sábia”. Após ser questionado diversas vezes por Castañeda se “após derrotar os quatro inimigos, eu me torno um homem de conhecimento?”. A resposta é “Ser um homem de conhecimento não tem permanência. Nunca se é um homem de conhecimento, não de verdade… A pessoa se torna um homem de conhecimento por um instante muito breve, depois de derrotar os quatro inimigos naturais”.

O que podemos notar no ensinamento antigo, é que um “sábio” não é sempre um sábio, ele está sendo sábio por um breve momento, se ele não fizer mais nada depois, deixará de ser um sábio.

Isso indica um grande desapego a títulos e às questões do ego, pois algumas pessoas se apegam ao que já foram um dia, mas atualmente podem não estar mais sendo aquilo, como pessoas que eram muito admiradas no passado, e atualmente agem como se ainda o fossem, ou pessoas que tinham um certo status social por terem vindo de uma família de muitas posses, mas já não possuem mais uma situação financeira tão avantajada e continuam querendo ser tratadas de forma diferenciada.

Podemos pegar como um exemplo próximo um campeão de um esporte, num determinado campeonato. Naturalmente ele é e sempre será o campeão daquele campeonato específico naquele ano ou edição, mas se ele se apegar a este título e não continuar treinando, melhorando e se esforçando, logo será deixado para trás.

Ele também será deixado para trás facilmente caso continue mantendo a mesma performance que teve no campeonato no qual foi campeão, pois os oponentes estarão sempre melhorando e se atualizando.

Um sábio é aquela pessoa que sempre está buscando desenvolver o auto conhecimento e conhecer as outras pessoas, e jamais aquele que pensa que “já sabe” e portanto, não precisa aprender mais nada.

Vamos entender que uma pessoa não possui necessariamente um inimigo por vez, ela pode ter vários de uma única vez. Da forma que o livro foi narrado, há a indicação de quais “ficam” após eliminar os anteriores, e quais podem ser gerados, mas por vezes mais de um desses inimigos surgem ao mesmo tempo.

Primeiro inimigo

“E assim ele se depara com o medo, um inimigo terrível, traiçoeiro e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, a espreita.”

No fundo não acontece nada com um homem que é derrotado pelo medo, nada mesmo, a não ser que ele nunca aprenderá. Pode ser que ele se torne um tirano, um pobre homem apavorado e inofensivo, ou seja, será um homem vencido. Vencido pelo medo.

A forma sugerida por Don Juan para derrotar o medo é simplesmente não fugir dele. Desafiar o medo, dando o passo seguinte em direção a um caminho de aprendizado desconhecido. Tendo medo e não parando por causa do medo. Em algum momento quem vai recuar será o próprio medo. O homem se torna mais forte e seguro de si, desenvolve uma clareza de espírito e percebe que a tarefa não é tão assustadora quanto parecia. Neste momento o homem pode dizer que venceu o medo.

Apesar do caminho para derrotar o medo se dê em pequenos passos, o medo é derrotado rapidamente.

Ao ser questionado se o homem não voltará a ter medo novamente de uma situação no futuro, no qual Don Juan responde que uma vez que o homem desenvolve a clareza de espírito que apaga o medo, este não será mais um problema, ele conhece seus desejos e sabe como satisfazê-lo.

Segundo inimigo

A clareza de espírito, tão difícil de ser obtida, elimina o medo e também cega o homem.

“Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso porque é claro e não vacila diante de nada porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbiu a esse poder de faz de conta, sucumbiu a seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou vai ser paciente quando devia precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender mais qualquer coisa.”

Um homem derrotado pela clareza não será morto, mas sim impedido de se tornar um homem de conhecimento. O homem pode se tornar um guerreiro valente ou um palhaço. Independente de qual caminho seja, a clareza adquirida nunca mais se transformará em medo, mas também não será mais possível para ele aprender mais nada.

A forma de desafiar a clareza é semelhante à de desafiar o medo, pouco a pouco, com paciência, medir os novos passos com cuidado. Deve-se saber, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro, quando estiver muito certo de algo, pense melhor.

Chegará um momento em que a clareza será apenas um ponto diante da sua vista, que estava te impedindo de ver além daquilo que você estava vendo, este é o momento em que a clareza é vencida, e o homem estará indo em direção a ser um homem de conhecimento.

Neste momento o homem percebe que o que vem buscando a tanto tempo está à sua altura e é seu. Ele pode fazer o que quiser, já enfrentou seus medos e possui aliados para ajudá-lo. Tudo que ele deseja é uma ordem para o universo, ele vê tudo a sua volta, mas encontra seu…

Terceiro inimigo

“O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor.”

Em geral o homem nem percebe seu inimigo se aproximando, quando ele menos espera já perdeu a batalha. Seu inimigo o transforma em uma pessoa cruel e caprichosa.

O problema é que se tornar cruel e caprichoso não elimina o poder que a pessoa tem, ou seja, ela continua tendo a clareza e o poder.

Um homem derrotado pelo poder é aquele que morrerá sem saber manejá-lo. Será um problema para ele, como uma carga em seu destino. Ele não tem domínio sobre si e não sabe quando e como usar seu poder.

Quando um homem recua em seu poder, e volta para a “batalha”, isso significa que ele ainda está tentando se tornar um homem de conhecimento. Ele apenas será derrotado quando não mais tentar isso, abandonando seu caminho.

A forma de vencer o poder é desafiando-o de propósito, compreendendo que o poder adquirido nunca foi e nunca será seu. Deve se observar em todas as situações, tendo cuidado e lealdade com respeito a tudo que aprendeu. É importante ver que a clareza e o poder, sem o devido controle são os piores erros possíveis de serem cometidos. Quando se chega nessa etapa, o homem saberá como utilizar seu poder, vencendo seu terceiro inimigo.

O quarto inimigo

O quarto inimigo é o único que o homem nunca conseguirá vencer completamente, apenas conseguirá afastá-lo. É o tempo.

Esse é o momento em que não há mais receios, há clareza de espírito e poder controlado, não há impaciências. Mas também é um momento em que o homem sente um desejo de descansar, de ceder completamente a deitar e esquecer, se afundar na fadiga, o fazendo perder no último round. Seu desejo de se retirar dominará sua clareza, poder e sabedoria.

Quando o homem sacode a fadiga, vivendo seu destino completamente, poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja por um breve momento!

Conclusão

Naturalmente estamos falando sobre um modelo de mundo específico, com suas generalizações e crenças, portanto podem não representar necessariamente uma verdade universal, mas um modo interessante de pensar sobre nossa aprendizagem constante.

A PNL Sistêmica, no nível avançado trabalha diversos tipos de arquétipos de mudança, tanto internas quanto com relação ao ambiente, e podemos em muitos pontos destas mudanças, incorporar os entendimentos e sabedorias do Brujo Don Juan para nossa própria jornada.

Quando desafiamos nossos medos e necessidade de poder, estamos cada vez mais nos desprendendo da necessidade de satisfazer nossas questões do Ego, e entrar em contato com o que há de mais belo no ser humano, sua essência.

Blog

Os 4 Inimigos Naturais do Homem

This shortcode LP Profile only use on the page Profile

2 thoughts on “Os 4 Inimigos Naturais do Homem

  1. Brilhante como sempre. A impermanência é o atributo principal de tudo:- nunca estaremos prontos, nunca nos conheceremos por completo até o próximo desafio! Obrigada por nos lembrar disso!

  2. Sensacional está linkada , amei o artigo e levarei para vida!!! Gratidão por compartilhar o seu conhecimento ❤️

Comments are closed.